Omissão intencional de uma ideia subentendida. Pode ser traída pela zeugma.


quarta-feira, 4 de junho de 2008

Doença da pele curta

O homem cerra as pálpebras, encosta a cabeça no vidro e tenta sair do metro. Pretende descansar mas fica mais sensível ao toque de encerramento das portas. Volta a abrir os olhos para poder esquecer o apito.
Procura distrair-se observando as pessoas na carruagem e põe os óculos escuros para contemplar livre e despudoradamente a cega sem cavidade ocular. Que esconderá aquela pele tão esticada? Com os óculos escuros fica meio mouco pelo que os tira para a ouvir melhor. Que vida conta esse cega mesmo cega?
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Lança-se à estrada. --------------- (15 passos). Abre os olhos. Certifica-se da ausência de buracos, de poças de água, de transeuntes, de presentes caninos, de bifurcações, de cruzamentos, de escadas... Fecha os olhos e continua o caminho. Mais 20 passos na escuridão.
Por não se desviar da linha virtual sossega-se "não me diagnosticam labiritintes".
25 passos... Não existem obstáculos na sua estrada, pode seguir em paz... mais 27... Não resiste e abre os olhos! "Quem disse que havia paz?"
Que necessidade terá em contar os passos? Em ordenar o invisível? Em prever o desconhecido?
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Queria entrar no museu para cegos mas os funcionários seriam surdos. Não o ouviram bater à porta.
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P.S.: Os conteúdos da Elipse são da minha autoria (excepto quando referido), e devidamente protegidos por tormentas e bolhas de amor.