Omissão intencional de uma ideia subentendida. Pode ser traída pela zeugma.


quarta-feira, 30 de abril de 2008

anagrama

amor. amora. amara aroma raro. amarro ar. amarar. ara. aro. roma. romã. ramo. morra. marra. má. mao. moa. mão. mora. ora. o mar. ‘omar.
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Ora bolas, ﻋمر, não fui à tua aula.
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terça-feira, 22 de abril de 2008

Atira o barro à parede...


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...e faz um delicioso bolo do(s) caco(s).
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Argila, Palácio de Mari, II milénio a.C., Departamento de Antiguidades Orientais do Museu do Louvre.
Esta peça servia aparentemente para preparar pão e bolos destinados à mesa real. Foi encontrada numa sala com outros moldes em forma de leão, peixe, pinha e diversas figuras geométricas, perto de um pátio onde se encontravam vários fornos.
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Para outros festins ver ainda BOTTÉRO, Jean, La plus vieille cuisine du monde, s.l., Points Histoire, Éditions Louis Audibert, 2006.
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sexta-feira, 18 de abril de 2008

2 x assento x 1 = 0


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Evita descansar em parques impossíveis se já não aguardas resposta a perguntas que nunca formulaste.
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quarta-feira, 16 de abril de 2008

“L'italietta”

A pouco e pouco foram saindo do elevador. O grupo em férias reuniu-se no hall do hotel pelas 19:30. “Ottima programmazione” pois assim não tiveram que abdicar de nada. Tinham respeitado os horários e os silêncios, tinham cumprido os seus deveres católicos, tinham feito os respectivos ex-voto, tinham realizado as suas abluções antes de passar ao repasto e, graças ao fuso horário e ao satélite, às 20 horas do seu país, puderam ver os resultados das eleições legislativas.
A forte adesão às urnas e o resultado de claro bipartidarismo devem-lhes ter aliviado a consciência por terem faltado às obrigações cívicas. Todos reconheciam o estado de emergência do país, as debilidades do sistema eleitoral, o auto-boicote, as forças federalistas, o poder incontornável da mafia, a implosão de algumas forças políticas, a instabilidade resultante da média de um governo por ano desde a II Guerra Mundial, a dívida pública correspondente a 100% do PIB, a ausência de discussão ideológica, a manipulação da informação, a corrupção, a falta de apoio crescente a populações desfavorecidas, a ridicularização de um dos países do G8...Mas nada disso importava a uma hora daquelas, a comida estava óptima e todos mastigavam, bebiam e se afundavam.
Ser turista não é compatível com certos direitos e deveres, pelo que “apenas” abdicaram do seu voto e da discussão franca à mesa. Não quiseram arriscar uma congestão pois a sua argumentação podia não ser bem articulada ou convincente e os convivas podiam não ser complacentes com as trafulhices e a demagogia de Berlusconi, nem estar sintonizados com o discurso violento e xenófobo de Bossi. Por conseguinte, uns poucos denunciavam-se pelo olhar abatido enquanto a maioria se apresentava com um sorriso vitorioso, tímido mas vitorioso.
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No dia seguinte, no aeroporto, o usual voto na despedida:
– “In bocca al lupo!”
– “Crepi!”
Bem precisarão.
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terça-feira, 8 de abril de 2008

Miscellanea melifera

O Igri é o homem dos sete instrumentos e é também apicultor. Um dia, as suas abelhas fugiram com o frio. Pouco depois a Ju descobriu outro enxame e recebeu o epíteto “a rainha das abelhas”.
O Seu Mateus perguntou-me porque não ia lá a casa comer uma colher de mel se estava doente.
A Anna falou-me em 1993 da Celebração do Mel, do Antoni Tàpies. Em 2000 fui à sua Fundação em Barcelona com a Rititi.
O Dini fez uma fotografia aos bugalhos onde algumas abelhas depositam as larvas.
O πerre deu-me há muito tempo uma vela de cera de abelha.
O Math deu-me o seu pólen de flores. Disse-me para consumir moderadamente pois a sobredosagem pode provocar efeitos nocivos. Hiper energia? O que se faz com a energia em excesso?
(Existem vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis, sendo que as primeiras podem atingir níveis tóxicos no organismo)
Conheci recentemente um rapaz com o nome do rio do esquecimento, Lethe, que em criança fora hospitalizado por excesso de vitaminas.
A Juinha quando era pequenina dizia que tinha que tomar as suas “vitameninas”; agora não tem o luxo de se equivocar.
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No Rif tomei um chá com abelhas. Não eram as mesmas da minha terra, eram maiores, mais dóceis e peludas. Na Península Ibérica existe, não surpreendentemente, a Apis melifera iberica.
Noutros tempos fui picada por uma abelha. Depois chuparam-me o ombro.
Em Bruxelas vi uma mostra sobre a tradição estoniana de pintar as colmeias.
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O mel em oferenda post-mortem a um faraó está próprio para consumo 3 mil anos volvidos.
No Olimpo, os deuses alimentam-se de hidromel e de ambrósia sideral.
Apenas em meados do séc. XVII, com as observações biológicas a microscópio, a humanidade veio a saber que a abelha-mestra é uma fêmea.

O som do fim de um enxame é descrito como um lúgubre e vibrante lamento de desespero.
A dança das abelhas em círculos apertados relaciona-se com o modo de se localizarem geograficamente.
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Pensei de manhã “tenho que comprar mais mel pois este está a acabar”. Peguei no frasco. (A minha mãe disse-me a vida toda para não agarrar os frascos pela tampa.) Parti o frasco de mel pois peguei-lhe pela tampa, porra! Preciso de um fakir que me lamba o chão.
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Na minha rua já chegou a Primavera: as laranjeiras em flor lançam no ar o seu perfume, e as ameixoeiras selvagens já ganharam as folhas da cor do seu nome. Desconheço os efeitos da Estação nas cerejeiras-japonesas e é quase certo que, se voltasse ao local onde as conheci, não as saberia identificar. Não é exclusivo do reino vegetal as espécies deixarem-se reconhecer apenas nalgumas fases do ano.
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Tu, ele, ela, vós, eles, elas fazem parte do meu jardim, ainda que nem sempre perto. Mas agora parto, chegou o tempo do outro tempo e há que polinizar outros campos.
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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Abril, águas mil



Após o dia liso e transparente no mar e com o mar da Sophia*, eis um pouco de cultura rural: o “Verdadeiro Almanaque”, o “Reportório útil a toda a gente”** indica, além da mudança abrupta do tempo, que este é o mês de semear estrelas do Egipto, girassóis e malmequeres, de separar os vitelos das mães e de tosquiar as ovelhas no Quarto Minguante.
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* Coral, Sophia de Mello Breyner Andresen
** Adquiro religiosamente todos os anos o Borda d’Água, uma mina de informações no amplo sentido da Kultur, que me dá também o prazer prosaico de desvirginar uma publicação com a faca de papel, tal como via antigamente os meus avós a fazer com os seus livros.
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sexta-feira, 4 de abril de 2008

O JOGO É UM ITINERÁRIO

Na minha oficina herética
o labirinto contraria o linear:
percorre-me
como se fosse uma veia
segura em seus meandros

A não-necessidade, o que seria?
que nova desordem criaria?
que outras descobertas?

A fugaz eternidade das ideias-mestras
incessante refaz os jogos da racionalidade
mas o jogo é um itinerário
e a sedução do rigor
recoloca-nos incessantemente na senda do desejo



Ana Hatherly, in Itinerários
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terça-feira, 1 de abril de 2008

dEUS

No final de um dia excepcional fui trespassada pelo olhar de dEUS. Se uns sete passos correspondem a uns sete segundos, foi esse o tempo consagrado ao seu ponto de fuga (por acaso, eu): uma rapariga observando quem entrava, vestida de vermelho, sozinha, com um copo sobre a mesa, a um ângulo de uma sala índigo.
No dia das mentiras é difícil acreditar mas sim, é bem verdade... eu e o Tom Barman escolhemos o mesmo restaurante no Bairro Alto para jantar.
Não me deixei cegar pelo entusiasmo e, quando me levantei para pagar, confirmei que era ele. Estava como a "minha menina" de ontem, com os dedos a tocar verticalmente teclados imaginários.
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Ainda não saiu o novo álbum e tampouco começou a tournée que, desta vez, até à data, não faz de Lisboa parte das constelações de dEUS, mas o Tommy Bar anda por aí! Adorável.
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Acerca-te de mim, viajante

A minha foto
P.S.: Os conteúdos da Elipse são da minha autoria (excepto quando referido), e devidamente protegidos por tormentas e bolhas de amor.