Omissão intencional de uma ideia subentendida. Pode ser traída pela zeugma.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Tempo de antena

A última vez que a viu assomar à janela foi para ver a sua Ophélia a rabiscar "Fuck you". Nunca mais ninguém conseguiu consolá-lo.




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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

sábado, 12 de setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Lenda da Dona Pé de Cabra

De dom Diego Lopez, senhor de Biscaia, bisneto de dom From, e como casou com uma mulher que achou, andando a monte, a qual casou com ele com condiçom que nunca se benzesse e do que lhe com ela aconteceu.


Dom Diego Lopez era mui bom monteiro e, estando um dia en sa armada e atendendo quando viria o porco, ouviu cantar muita alta voz uma mulher em cima de uma penha.
E ele foi pera lá e viu-a ser mui fermosa e mui bem vistida e namorou-se logo dela mui fortemente e preguntou-lhe quem era. E ela lhe disse que era uma mulher de muito alto linhagem. E ele lhe disse que, pois era mulher de alto linhagem, que casaria com ela, se ela quisesse, ca ele era senhor daquela terra toda. E ela lhe disse que o faria, se lhe prometesse que nunca se santificasse; e ele lho outorgou e ela foi-se logo com ele.
E esta dona era mui fermosa e mui bem feita em todo seu corpo, salvando que havia um pé forcado, como pé de cabra.
E vivêrom grão tempo e houverom dous filhos e um houve nome Enheguez Guerra, e a outra foi mulher e houve nome dona...
E quando comiam juntos, dom Diego Lopez e sa mulher, assenteva ele a par de si o filho e ela assentava a par de si a filha, da outra parte. E um dia foi ele a seu monte e matou um porco mui grande e trouxe-o pera sa casa e pose-o ante si u estava comendo com sa molher e com seus filhos. E lançarom um osso da mesa e vierom a pelejar um alão e uma podenga sobre ele, em tal maneira que a podenga travou ao alão em a garganta e matou-o.
E dom Diego Lopez, quando esto viu, teve-o por milagre e sinou-o e disse:
- Santa Maria vale! Quem viu nunca tal cousa?...
E sa mulher, quando o viu assi sinar, lançou mão na filha e no filho, e dom Diego Lopez travou do filho e nom lho quis leixar filhar; e ela recudiu com a filha por uma fresta do paço e foi-se para as montanhas, em guisa que a nom virom mais nem a filha.




Nobiliário do Conde D. Pedro ou IV Livro de Linhagens, c. 1372

In Poesia e Prosa Medievais, Editorial Verbo, s.l., 2006, pp. 269-271
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domingo, 23 de agosto de 2009

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domingo, 9 de agosto de 2009

SMS

Sublinhei as frases importantes, procurei as palavras difíceis no dicionário e tento empregá-las no dia-a-dia.
Fiz elenco das personagens principais e já as conheço pelos bigodes.
Revi figuras de estilo,
tracei itinerários sem repetir caminhos,
- leio em voz alta, rimo-nos em silêncio ou a bandeiras despregadas - e
perdemo-nos irremediavelmente em afamadas tragédias.

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Tanto achaque, champanhe,
desencontro, disfarce, odor a verbena, partida de xadrez, soirée no S. Carlos,
tanto fru fru com sedas, tanto sinal malabarista com leques e luvas, tanta pupila de veludo,
tanto furor em conhecer,
tanta jocosa piada, tanto jacobino,
tanto diletantismo,
tanto presságio e viagem de landau por tão tacanha cidade e

que arrebatamento romper com o romantismo oitocentista:

"Gajo, olá, que tal um caril de camarão cá em casa? Eu descasco o marisco, tu lavas a louça. Aí pela 1:30, está bem? É que não sou lá muito boa madrugadora."
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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Crisografia

Disseste-lhe que as suas palavras eram raras pérolas. Com elas elaboraste um colar de mil contas com o qual a enfeitas e a forças a olhar ao espelho com luxúria e vaidade.
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quarta-feira, 15 de julho de 2009

ilha mágica

Do miradouro da ilha mágica víamos uma outra coroada pelo castelo circundado por um braço de prata. Uma brisa soprava docemente, o sol caía no mar, o espaço era plausível e o tempo flutuava. Instalámo-nos na esplanada e pedimos um café e uma água das pedras para cada um. Disseste-me que me ias tirar uma fotografia onde aplicarias um filtro creme que eu depois retiraria. Fiz uma pose, afastei o cabelo dos olhos e acordei antes de disparares.

Pelo desejo da acção muitos sonhos ficam incompletos. Maria Zembrano lembra-nos que acordar devolve-nos ao tempo, o sonho criador anuncia e exige o despertar consciente.

alors,
digamos fiat,
vem cá fazer uma imagem e beber o café que já foi pedido.
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terça-feira, 14 de julho de 2009

in and out

Distribui chaves, guarda identidades,
marca pontos, encontros e despertares,
inventa nomes de povoações, números e percentagens, cria nomes de praias, de pais, de países, queria raízes,
rios,
rizomas,
risos.

Por momentos ousa, insinua-se, insiste, resiste,
palavra em riste, palavra de honra,
falha o pé, falha a voz, falhamos nós,
prova ainda,
espeta-se, hesita, excita, espera,
mais um pouco, mais um esforço,
anda, mais um esforço ainda,
salta, vem,
salta pocinhas

Despe-se, despede-se, debulha-se.

Fala da bandeira, da bebedeira, da carpideira, das carpetes, da Penélope, da Joana Amendoeira, da Joana Vasconcelos, da Santa Joana, do Papa, da papa da Joana, do papá da Joana, do crochet, das colchas de Castelo Branco, do ponto cruz, das tapeçarias de Aubusson, de Portalegre, de Gobelins, dos tapetes de Arraiolos, da Pérsia, do Cáucaso.

Esqueceu a roca,
mudou de fuso, mudou de língua.
de parcas palavras, sorriu e seguiu viagem.

Comparou, regateou, resgatou, desbaratou,
toda rota inverteu rota, toda afoita atalhou caminho,
perdeu o fio à meada, rosnou, ronronou, divergiu

Aludiu sobre a rua do Ouro, o rio de ouro, o Douro, a filigrana, o apego, o desafogo, a cúria, a incúria.
Com ensejo espraiou-se sobre terramotos e maremotos, saídas de emergência, pegas de caras, pegas de cernelha, pêgas no tecto, pêgas na rua, pêgas no ar, pára-quedas para quê?

Grelado, grelhado, cozido, frito, estufado, escalfado, fodido. Gato escaldado de água fria tem medo.

Beneditinos, cistercienses, franciscanos, dominicanos, carmelitas descalças, barbadinhos, bigodinhos, templários, rosa-crucianos e pelicanos.

Discorreu sobre as sete saias, as sete colinas, os rabos de saia, os figos da Índia, o Made in India, o Made in China, os achaques, a xícara de chá, a falta de chá, a falta de tacto, a falta de tecto, a falta de ti.

Viu os cornos do ministro, a apanha do isco, comeu iscas com elas, bebeu ginjas sem elas, moveu-se, sacudiu, petiscou, comoveu-se,
ninguém a comeu –
observou
tudo a sorver –
sorvete.


Palrou sobre agricultura, criação animal, gripe das aves, gripe suína, vacas loucas, milho trangénico, fenómeno do Entroncamento, contou carneiros, comeu borrego, berrou, borregou, olhos de carneiro mal morto, cruzes canhoto

e pernas de gafanhoto.

Passeou, mandou passear, pavoneou, palmilhou, catou, foi passear macacos, com mil milhões de macacos, palermas por toda a parte, todos pintas, troca-tintas, Palermo, macacos me mordam, máfia, má fila, língua de trapos, engole sapos.

Dislexia, língua bífida, faz de conta que percebe o dialecto, que percebe a anedota, que não ouviu o seu nome,
Faz de conta que leu, que ligou, que pagou, que bebeu.

Cantarolou, escrevinhou, suspirou, mandou calar, declinou a palavra, declinou o convite.

Pisou o risco, pisou o túmulo, pisou o chão de xisto, de pau-santo, de nogueira, de carvalho, de cortiça, de granito, de calcário, de alcatrão, cortou o dedo e o pão

Apontou para cegonhas, para salinas, para cimenteiras, pimenteiras, Nossas Senhoras, Cristos, santos, dejectos, buracos, coroas, livros, teatros, escadas, entradas, saídas, lençóis, girassóis.

Se tu visses o que eu vi,
solidó,
à porta do tribunal

Ganhou dinheiro, perdeu juízo, pirou-se – Doutor Língua também se perdera.
Assediada ou ignorada, desarrumada ou alinhada – Monsenhor Gago também dissera obscenidades após abençoar os presentes.

Definiu posições, números, percentagens, rankings, margens, dados, ritmos, andares, quarto 421, quarto andar, quarto 224, 1014, 731, 1133
Todos os dias dormir em camas diferentes, faces sobre novas almofadas, toalhas sempre brancas, camas sempre feitas, bom-bons à espreita, todas as manhãs disfarçar a voz, sempre vozes novas a acordar e desejar os bons dias,
aprender a dizer sempre a mesma coisa com inusitada alegria, B A Bá,
traduzir,
Alibabá e os 40 ladrões,
1111, 1147, 1290, 1383-85, 1415, 1498, 1580, 1640, 1755, 1834, 1910, 1917, 1974, 2009

Alfacinhas, tripeiros, minhotos, conimbricenses, transmontanos, galegos, couve-galega, couve-flor, come o que houver, o couvert muito caro, a cavalo dado não se olha o dente, cavalinha, cavalitas, ao colo, cavolo, chapa cinco e o diabo a sete.


Manca marcha, marca mancha,
pinta tela tosca, imagem sempre fosca
mastiga e deita fora,
mosca-morta, letra-morta, mão morta vai bater àquela porta.



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À beira-mar, à beira-mágoa, faz troça de si, Ulisses,
S, sempre sinuosa, sempre só

Faz jogo de cintura – murmura,
torce o torso, não importa a dor,
escuta o pescoço a clamar amor
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quarta-feira, 1 de julho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

tsunami

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quinta-feira, 25 de junho de 2009

é preciso cultivar o nosso jardim

"(...) e Pangloss dizia por vezes a Cândido: «Todos os acontecimentos se encandeiam no melhor dos mundos possíveis: pois, enfim, se não tivésseis sido escorraçado de um belo Castelo a pontapés no traseiro por amor da menina Cunegundes, se não tivésseis sido supliciado pela Inquisição, se não tivésseis corrido a América a pé, se não tivésseis trespassado o Barão, se não tivésseis perdido todos os vossos carneiros do bom país do Eldorado, não comeríeis agora aqui limas em compota e pistáchios.» - Muito bem dito, respondeu Cândido, mas é preciso cultivar o nosso jardim."
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Cfr. Voltaire, Cândido ou O Optimismo, Lisboa, Tinta da China, 2006, pp. 170-171.
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Sabendo que a sátira ao optimismo faria parte do Index Librorum Prohibitorum, Voltaire publicou-a clandestinamente e de modo anónimo em 1759. A paródia, com grande divulgação, tem também como periclitante palco, a Lisboa do Terramoto, da qual os heróis escapam ilesos "ao último dia do Mundo" e à subsequente fúria para expiar os pecados através dos autos-de-fé.

Se Voltaire se permite estabelecer admiráveis nexos causais, dou-me à liberdade de dizer que os pistáchios existem desde o campismo em Espanha, i.e., há cerca de 25 anos, ao passo que, conforme a tradução de Rui Tavares, existem pelo menos desde meados do século XVIII... Já na edição da Inquérito, do tempo dos meus avós, ou quando as Noites Brancas do Dostoiewski custavam apenas 25 escudos, a frase do filósofo Pangloss termina deste modo: "não estaríeis agora aqui a comer amendoim e doce de cidra." Em que é que ficamos ?

Não é substituível a leitura na língua original, porém, comparando uma e outra tradução, é tocante o pudor de certas frases que se explicam no quadro da sociologia literária e na acção do censório lápis azul do Estado Novo.

Errata : onde se lê "encandeiam" deverá ler-se "encadeiam".

Perplexidade : O nome Cunegundes existe !
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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Escrita opaca

X na sua alienação tem algo a dizer. Envia uma mensagem a Y.

O receptor será incapaz de ler ou reconhecer a caligrafia –
ali verá apenas alguns pontos e linhas, o traço grosso a preencher uma mensagem vazia.

Y recorre a Z,
que identificará o signo
mas não o significado.

O remetente detecta limites num alfabeto sagrado.
Por seu turno, o intermediário, com o seu aparelho vocálico,
não emite as justas consoantes e vogais pelo que
as palavras ganham autonomia na comunicação tripartida e errática.

O destinatário da mensagem corrompida pela escrita e pela fonética,
talvez pense, revoltado,
que
não pode sempre compaginar com a desordem,
que
os homens nasceram a gritar e cresceram a calar,
que
a língua não brotou do berro,
que
nos fios de voz existe (inútil) silêncio e mistério,
que
(não) quer desenrolar uma contínua palavra vã,
que
na tinta permanente há descompassos,
que
a escrita deixou de funcionar como auxiliar da história e da memória,
que
o vazio (não) é destituído de sentido,
que
se escrever é fazer existir a voz, aquela é inaudível ou um acto-falhado,
(ou) que
no fosso entre a oralidade e a escrita se inventou outra língua.


Perante o lúdico acto e o objecto caligráfico – o papel translúcido e a escrita opaca, –
matutarão sobre a (im)possibilidade do romance
ser traduzido em versos indecifráveis.
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Acerca-te de mim, viajante

A minha foto
P.S.: Os conteúdos da Elipse são da minha autoria (excepto quando referido), e devidamente protegidos por tormentas e bolhas de amor.