Omissão intencional de uma ideia subentendida. Pode ser traída pela zeugma.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Querido:


Não mais Dezembro, não mais Janeiro e os seus balanços do passado e projectos para o futuro. Gastas as cartas astrológicas e as imagens de Janus, acabadas as discussões orçamentais no Parlamento, findos os rankings do ano e da década em todas as conversas de café, no foyer dos cinemas, nos jornais e demais plataformas de comunicação – eles não sabem que uma década tem 10 anos e que a 1ª década do século XXI termina apenas no último dia de 2010.

Ecoa uma canção febril de Fevereiro, composta como uma manta de retalhos, num ataque de nostalgia e desejo de normalidade.
“– Como se pode ter saudades daquilo que nunca se teve?”
“– Confirmas mais um elemento do nosso legado semita: para os judeus o passado está atrás das costas.”

Que corpo tem a minha voz, que palavras ocupa, onde se aloja, poderei enfim reunir-me com ela?

Meu querido, talvez estejas cansado destas imagens vazias, poluídas, puídas, imóveis – recorda que o rosto distrai, o reconhecimento topográfico aborrece-me, o trabalho nunca está feito, a leitura é plural, as palavras polissémicas, na imobilidade existem secretas oscilações e convites.
Talvez estejas maçado com os jogos de pronomes pessoais – não subestimemos a nossa perspicácia, é de nós que falamos (?)

O tempo urge, a água agita-se,
turva,
A palavra corrige,
clareia.

O gesto rente à consciência devolve-nos ao corpo. Prosseguem as leituras sábias e as tardes líquidas.
Mas importa sair das arrábidas por nós criadas, do cabo do mundo regressar, acreditar nos gambuzinos e na sombra do tremoceiro. No meu país todas as estradas vão dar ao mar, convém ir verificá-lo de tempos a tempos.
A montanha inspira o desejo de chegar, o mar, vontade de partir.

Com urgência grotesca abrir a porta, abrir a boca, abrir mão, abrir os olhos, abrir a pestana, abrir o coração.
Abrir as asas, abrir o bico,
as torneiras, as comportas, as ideias, o compasso,
Abrir caminho,
Abrir brecha, com chave de ouro
Abrir o apetite, o jogo, o livro, a janela de par em par.

Quando sincronizaremos os passos? Para quando uma valsa lusa, o corpo embalado na f(r)icção, na fixação e deslize? É preciso a(ni)mar.

Em que passos perdidos nos encontraremos?
()
()
()
() () ()

5 comentários:

atrasado disse...

Bon, alors moi j'y comprends pas toujours aux choses écrites comme si c'était une langue étrangère. Bleu à moitié, mais bleu quand même...j'ose un élément de réponse à une question qui ne m'est pas posée (answered question/unquestioned answer) : en bon pragmatique, je pense que la voix a le corps qu'on lui accorde. Si vous vous penchez en avant, très en avant, non plus que ça, le menton collé à la poitrine, là, comme ça, ben votre voix, elle a un corps réduit, écrasé quoi ; elle tente de se frayer un chemin, oui, une voie, c'est malin ça, elle fraye, la voix ça fraye, c'est même la base de la poésie, mais laissons cela. A l'inverse, l'inverse du corps va sans dire, si vous ouvrez votre poitrine, si vous regarder le ciel avec le menton, façon héron qu'aurait perdu ses lentilles dans un embrun, eh ben, votre voix, elle va décrocher les étoiles, ou la lune, c'est selon. une voix saine dans un corps sain, voilà la solution.
Enfin, moi, ce que j'en dis...j'habite, sur un mode intermittent tout ce qu'il y a de plus désagréable, une région de montagnes. Si j'en crois vos chansons populaires, en pays de montagne on veut arriver, ca vous donne le désir d'arriver. D'accord, mais où ? C'est un truc pour gens de la mer ça, c'est la montagne vue de la mer. Parce que, quand on y est à la montagne, on a surtout envie de se tirer ! Au bord de l'océan.
AH Lusitanie !
AH Portugal ! c'est ça qu'on entend dans les rues des villes campées au pied des montagnes....
enfin, de mes montagnes.

Je vous embrasse
moi aussi j'ai envie d'ouvrir plein de trucs.
De rejoindre l'océan.
Question de côtes.

Fontenova disse...

Creio que com o tempo tudo se torna mais simples (Bem aventurados os simples) embora seja sempre necessário partir para ter o gozo do regresso. Cada regresso se inicia no momento da partida. Tou sempre a regressar!

Sofia disse...

J’ERRE trop de penser que vous êtes l’incommensurable Pi?
Salut, mon doux, merci de ta visite et tes vivaces mots.

Je ne suis pas pragmatique, tu sais, et souvent je cherche la faillibilité des solutions...
et ba~~~~~~, s’il n’y a pas de solution, ce n’est plus un problème. Ce sont les idiosyncrasies d’une eternelle voyageuse insatisfaite.

voie/voix/voire/\fois/foi/foie

Si la voix a le corp qu’on lui accorde, pauvre Charlesmagne!
Personne, pardon, Pessoa disait "o mito pode não ser verdade mas ser verdadeiro".

Salues les montagnes et Popoon. Les vagues vous attendent. Je t’embrasse très fort.

atrasado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
atrasado disse...

Je t'embrasse itou. et ton francais est bluffant/ ta langue francaise...
a bientot
vis bien

Acerca-te de mim, viajante

A minha foto
P.S.: Os conteúdos da Elipse são da minha autoria (excepto quando referido), e devidamente protegidos por tormentas e bolhas de amor.