Omissão intencional de uma ideia subentendida. Pode ser traída pela zeugma.


domingo, 9 de março de 2008

Águas de Março

Ao rever a topografia cosmogónica segundo o Enuma Elish* recordo, sem ter vivido.
Entre este mundo mítico e físico há os que ficam mudos e quedos a boiar em águas obscuras, à espera de nascer, à espera de ouvir o seu nome. Por contraponto, os que muito falam e nada me dizem, essa aflitiva profundidade da superficialidade.

Em Lanzarote vi um lago cuja profundidade se ignorava. Dá-me tranquilidade saber que há coisas no mundo reconhecidamente imensuráveis... Esse lago é subterraneamente alimentado pelo oceano e microorganismos conferem-lhe uma tonalidade jade ou malaquite, dependendo da incidência da luz. As águas, passam assim a ser, um enorme e informe bloco de pedra.
A ironia é que como foi classificado Património Mundial da Humanidade ninguém se lhe pode chegar. Não é possível fazer saltar seixos nessas águas, mergulhar nelas, eventualmente caminhar sobre elas, reflectir-se nelas, recolher as suas algas para efeitos de talassoterapia nem navegar com uma jangada de pedra.

Resta-nos fruir da natureza ao largo, reflectir sobre essa distância crítica de segurança e guardar as águas num suporte bidimensional, se não mesmo virtual.

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* Enuma Elish significa “quando no alto” e corresponde às duas primeiras palavras do mito da criação babilónico. Foi fixado com a escrita no II milénio a.C., em sete tabuinhas de argila, descobertas no séc. XIX na biblioteca de Assurbanipal, em Nínive. As semelhanças com a narração bíblica do Livro do Génesis não são meras coincidências.
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P.S.: Os conteúdos da Elipse são da minha autoria (excepto quando referido), e devidamente protegidos por tormentas e bolhas de amor.